A repercussão ecológica na reintrodução do lobo




Havia elo que faltava no ecossistema de Yellowstone, e o problema foi resolvido 70 anos após a última matilha de lobos conhecida ter sido deliberadamente exterminada da área, com a reintrodução dos lobos em 12 de janeiro de 1995. No início foram oito lobos reintroduzidos, capturados no Canadá em 1996 mais 31 de mesma origem. Os lobos são da espécie cinzento (canis lúpus), sendo que a subespécie solta no parque é o lobo cinzento do vale Mackenzie (Canis lúpus occidentalis).

O impacto sobre a biodiversidade do Parque Nacional de Yellowstone foi visto na década - muito mais rápido do que os envolvidos no projeto esperavam.

Antes dos lobos havia um grande número de cervos e alces que, apesar dos esforços humanos em controlá-los, continuavam aumentando em número, provocando a redução da vegetação e a possibilidade de pastoreio, dificultando a coexistência com outras espécies. Com a reintrodução do predador, pouco a pouco a região avançou para uma situação de equilíbrio com a diminuição de grande parte das manadas de cervos, alces e coiotes, e a regeneração da vegetação e crescimento dos arbustos dando mais frutos.

O Parque Yellowstone voltou a ter árvores altas e as partes desnudas dos vales se converteram em florestas de álamos e salgueiros, atraindo pássaros canoros e aves migratórias, castores e outras espécies. Logo, as represas construídas pelos castores permitiram forjar novos habitats para lontras, patos, peixes, anfíbios e répteis. A presença dos lobos também reduziu o número de coiotes e, consequentemente aumentaram os coelhos que por sua vez favoreceram o crescimento de doninhas, raposas e águias.

A cadeia alimentar continuou com os corvos e águias calvas se alimentando das carcaças deixadas pelos lobos; também os ursos delas se alimentavam aumentando sua população e facilitando a regeneração de arbustos. Foi observado, ao longo dos anos um aumento na população dos ursos que passaram de 139 exemplares em 1975 para 600 em 2007, fortalecendo a teoria de que os lobos salvaram da extinção esta espécie.

Após mais de 25 anos depois, a reintrodução de lobos em Yellowstone é considerada um dos exemplos de reflorestamento mais bem-sucedidos de todos os tempos. Uma contagem biológica em 2019 registrou 123 lobos no parque distribuídos em várias matilhas.

Este experimento de reintrodução de um predador de topo de cadeia alimentar, trouxe importante lição, de que a relação entre predadores e o equilíbrio de um ecossistema é interdependente e mais complicada do que se acreditava. Pois de fato a reintrodução dos lobos contribuiu na redução da erosão das margens dos rios, na recuperação da mata ciliar e para o fortalecimento do solo. Pode-se afirmar que bastou um predador para que o ecossistema de uma gigantesca área verde recuperasse sua força e vitalidade.

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Foto: Glacier National Park's - divulgação